terça-feira, 23 de junho de 2009

De 5 em 5 o montanhista enche o papo!

Este relato conta a última aventura deste que escreve junto de seu amigo Edson Vandeira em terras altas paranaenses com um objetivo muito esperado: O mítico Pico Ciririca.

Era quarta-feira dia 17 de junho quando recebi um recado do Tácio dizendo que não poderia ir ao Itatiaia conosco. Tínhamos a intenção de chegar ao ponto culminante da linda formação rochosa Asa de Hermes, mas ele ficou ocupado por outros lados e não foi possível, fica para a próxima!

Assim sendo, trocando e-mail com o Edson, decicimos na quinta-feira dia 18.06.2009 por ir ao Paraná no dia seguinte fazer o ataque a montanha pela trilha “de cima”. Passaríamos assim por quatro cumes antes de atingir o quinto e último, o Pico Ciririca e seus 1.781 metros de altitude.

Ouço ou leio de longa data sobre a dificuldade de acesso da montanha, já escutei e li também várias vezes que, de cada 100 pessoas que tentam a montanha, aproximadamente 80 desistem. Portanto, o número de visitantes na montanha já é curto, menor ainda é o número de pessoas que chegam no Agudo de Cotia, montanha mais distante.

Não tínhamos carona nem companhia. Quando finalmente decidimos por ir na quinta-feira, imediatamente mandei um e-mail pro Pedro, pois ano passado subimos a Serra com essa intenção mas o tempo não ajudou (puro eufemismo escrever assim ahahahah) e o ataque ficou para outra oportunidade, voltamos do Tucum. O problema é que como foi muito em cima da hora, avisei ao Pedro mais em cima da hora e por isso aconteceu uma inversão de direções: nós indo para o Paraná e ele vindo para São Paulo. Mesmo assim, ele me disse que talvez o Julio aceitaria a pernada. Fiz o convite e o Julio me respondeu na própria sexta-feira, dia de nossa partida, que provavelmente conseguiria ir. A única dependência era a locomoção que ele tentaria resolver.

Partimos de São Paulo as 22:15h de sexta-feira dia 19.06.2009 pela Itapemirim, um carro promocional que custa somente R$ 40,00! Descemos no posto do Túlio (valeu pela dica Pepe!) as 04:25h da matina. Paramos no posto, compramos mais alguns quitutes como prestígio, 2 cocas e uma caixa de biscoito, e tomamos o caminho da estrada que leva a fazenda do bolinha. Como combinado, mandei um torpedo pro Julio avisando que chegamos e já estávamos andando. Ele me respondeu pouco depois dizendo que estava a caminho. Só então tivemos certeza de que ele iria.

Chegamos na fazenda do bolinha ainda com escuridão total, 05:45h da manhã. Sentamos, comemos um café da manhã rápido e quando estávamos prontos pra começar a caminhar, o Julio Fiori chegou com a Bárbara e o Moisés exatamente as 06:00h.

Não perdemos mais tempo e começamos os cinco a trilha rumo ao Camapuan. Ainda bem escuro, lanternas de cabeça. Trilha noturna o tempo todo porque a mata é bem fechada e a luz do sol não era suficiente. Antes mesmo de chegarmos a bifurcação que separa as trilhas “de cima” e “de baixo” desejamos boa trilha para eles, pois em conversa anterior contamos a nossa intenção de ir pela trilha de cima para atingir todos os cinco cumes. Apertamos o passo e fomos embora, e não os veríamos mais por longas horas.

Subimos em passo bom (até porque no começo tudo é mais fácil he he he) e em duas horas e dez minutos chegamos ao cume do Camapuan. Dali, pela primeira vez, pude ver o Pico Ciririca, límpido, sem nenhuma nuvem! Engraçado, não parece tão distante como é...

Como de costume, tiramos várias fotos...tínhamos tempo de sobra, ainda era 08:10h da manhã! Depois de muito tempo ali (acho que uns 40 u 45 minutos), descemos o pequeno vale, subimos a encosta do Tucum até seu cume onde chegamos as 09:20h. Assinamos o livro, tiramos mais dezenas de fotos e seguimos.

O negócio começa a complicar nesse ponto e aposto que muita gente trava quando vê a descida da enconsta do Tucum. Muito perigosa, muito exposta, lances de inclinação que provavelmente chegam a 70 graus! Não fazia idéia que era tão inclinada assim, não mesmo! Tesão de descida! A única proteção que existe é escolher raízes de plantas mais firmes e segurar nelas para poder descer. E assim levamos quase uma hora pra descer essa encosta até o fundo do vale.

Quando a descida terminou entramos na floresta para chegar a base do Cerro Verde. Como todo o resto da serra, muito úmida e bonita. Essa parte foi bem agradável pois ainda estava aberta o suficiente para não agarrar nas mochilas.

Chegamos na base da montanha e se continuássemos a trilha seguiríamos para o Pico Luar, para a esquerda subiríamos o Cerro Verde. Foi o que fizemos. Deixamos as mochilas para subir de ataque a montanha. Eita subidinha complicada!

Mais e mais mata fechada...a trilha até está lá, porém coberta por vegetação que esconde tudo...Quem conhece sabe de outro problema de lá, muita umidade. A cada meia hora era uma atolada de bota que ia quase até a canela!

Assinar o livro do Cerro Verde não foi possível, só havia um pedaço de papel. Ali mesmo colocamos nosso nome e descemos após tirar mais fotos do esculpido Paraná. Descemos em ritmo mais rápido pois o Edson estava com fome. Paramos na junção das trilhas e ele almoçou. Eu só comi algumas bananadas, bebi alguns goles de coca-cola, comi o resto da salada e pronto, ainda não tinha fome pra uma refeição. Tocamos pro Pico Luar.

Esse então foi sofrido. Tivemos que descer um vale profundo, cuja trilha era ainda pior que a do Cerro Verde. Quase que completamente fechada, com muito bambuzinho agarrando a mochila do Edson (crampon 80 – T&R). Perdemos muito tempo com isso para falar a verdade. Acho que das 14 horas até o Ciririca, pelo menos uma foi perdida com paradas pra soltar a mochila dele. Arriscaria até dizer uma hora e meia. Malditos bambuzinhos pela centésima vez!

Que subidinha chata, não por dificuldade mas por ser um pouco mais longa do que todas as anteriores, e mais complicada, fechada...Chegamos no cume do Pico Luar a 1.635 metros às 13:55h. Ficamos ali apenas 5 minutos, foi o tempo de tirar mais algumas fotos do Pico Paraná, da belíssima garganta do Cerro Verde que mais parecida um vale encantado com todas as nuvens que ali estavam, e também da pontinha do Ciririca, que brincava com a nossa vontade de tirar fotos sumindo e reaparecendo a cada 40 segundos! As nuvens faziam uma brincadeira de esconde conosco, que coisa!
O caderno do Luar estava totalmente molhado e não foi possível assina-lo.

Já era tarde, então descemos imediatamente pois já estávamos andando ha exatas 8 horas, e estávamos no cume do Luar. Tudo bem, somos exagerados e sempre tiramos muitas fotos, mas nunca queremos pressa na montanha. A idéia é curtir ao máximo o visual e levar para casa o máximo de recordações.

Já quase no rio que desce até o “última chance” tive que segurar em um tronco relativamente fino para descer. Quando soltei meu corpo para pisar mais abaixo escorreguei e todo o peso do meu corpo e mochila ficaram somente na mão esquerda. É claro, o tronco fez um belo estrago na minha mão. O sangue pingava com vontade, mas faz parte. Seguimos e minha perna esquerda deu os primeiros sinais de dores no joelho.

A descida foi bem longa, continuamos pelo rio seguindo as pedras e as marcações da trilha por tanto tempo que nem posso mensurar. Depois desse tempo Edson reconheceu o “última chance”. Cheguei a pensar que estávamos no caminho errado pela demora, mas estivemos corretos a todo tempo. A essa altura meu joelho esquerdo já doía barbaridades, cheguei a ponto de cair no chão três vezes gritando de dor e levar quase um minuto pra ficar de pé. Acho que os trinta e poucos estão começando a pesar...

Era exatamente 17:35h quando chegamos lá e o Edson apontou pro lado dizendo “É aqui cara! Olha a trilha pra subida ali ó!”. Nem acreditei, finalmente, após longas 11,5 horas começaríamos de fato o ataque ao cume. Mas peraí! Primeiro o pôr do sol he he he.

Disse ao Edson para ir na frente porque minha perna doía demais...A dor era ridícula nas subidas mas nas descidas já era quase insuportável. Ele sumiu pela trilha doido pra ver o pôr do sol, e eu subi lentamente logo atrás. Em cinco minutos cheguei a rampa saindo da floresta, e de lá tínhamos uma visão super privilegiada do sol...Edson tirou fotos fantásticas enquanto eu estava caído no chão pensando no problema que seria continuarmos em trilha noturna pro Ciririca. “Mas quer saber? Pro inferno! Chegar nesse cume hoje é questão de honra!” pensei, “cuspi” esse pensamento pela boca e o Edson concordou de pulmão cheio. Assim sendo, as 18:10h começamos a subir os 400 metros de desnível dali até o cume.

A essa hora eu já estava bem cansado, mas subimos persistentes, com calma...até porquê pressa não adiantava mais nada, já era noite mesmo. Lanternas na cabeça, montanha acima. Escuridão total, implacável. Obviamente tínhamos certeza absoluta de que o Julio, Moisés e a Bárbara já haviam tomado como verdade que nós dois tínhamos desistido e descido para acampar mais abaixo.

Passamos por mais uma floresta fechada que só, com todos os perrengues de novo, bambú, lama, o diabo que nos carregue, e lá pelas 19:00h paramos bem nas rampas do Ciririca. Essas rampas são bem conhecidas pelo pessoal que freqüenta a montanha por serem bem expostas, um pequeno erro ali e a queda é de pelo menos 50 metros morro abaixo com chances mínimas de sobrevivência. Paramos pra um pequeno lanche. Ali comemos pé-de-moleque, um pouco de biscoito de banana com aveia, bebemos água e descansamos por mais alguns minutos.

Depois desse rápido lanche/ descanso, continuamos para o ataque final. Dali até o cume levamos 35 minutos e foi assim que, com uma mão bem machucada e com um joelho praticamente inútil, cheguei ao cume do Pico Ciririca, vendo as placas ali apenas 100 metros a frente, um pouco mais abaixo do cume da montanha. Cheguei praticamente me arrastando, e não era de cansaço não, era de dor, muita dor no joelho.

Quando os três companheiros nos viram gritaram por nós e ficaram bastante aliviados pela nossa chegada. Moisés me disse que o Julio tentou me ligar pelo menos uma dúzia de vezes, mas foram tentativas inúteis pois meu celular não tinha nenhum sinal, por isso o deixei desligado para poupar bateria. Estávamos certos quanto a nossos pensamentos, de fato eles acreditavam que tínhamos desistido e descido da montanha.

Eu tinha tanta dor no joelho que mal me agüentava de pé, mas mesmo assim fui até a única pedra que consegui sinal pro celular e liguei pra casa da lili pra avisar que estava bem, quando voltei o Edson já estava terminando de montar a barraca.

Outro detalhe foi o sono, já tínhamos bastante sono pois não pudemos dormir no ônibus indo pro Paraná, se passássemos do posto de descida, gastaríamos um tempo muito precioso para voltar até a entrada da fazenda do Bolinha porque ainda não tínhamos certeza se o Julio viria.

Barraca armada, isolantes e sacos dentro, nos recolhemos pra que eu fizesse a janta. Alguém aqui também precisa comer certo? No cardápio o meu vício atual em montanha: Feijoada! He he he...Me provou ser uma boa refeição pra atividade, bastante calórica e repõe muito bem minhas energias. Edson não quis comer comida, ficou no seu tradicional bolo com iogurte.

Depois que me deitei não conseguia uma posição que diminuísse a dor no joelho, que inferno! A noite foi cruel...novamente algumas cochiladas perdidas, muita dor, muito vento na madrugada...Noite longa, noite longa...

Enfim começou a amanhecer. A dor diminuíra sei lá, uns 30%, mas ainda era muito forte. Levantamos e nos preparamos para assistir e registrar o nascimento do astro rei novamente! Foi o que fizemos Moisés, eu e Edson, logo atrás da primeira placa. O tapete de nuvens estava lindo demais, porém muito alto e isso fez com que quando o sol desse as caras já estaria muito forte...Não deu outra, nasceu forte demais já para as tradicionais fotos com show de cores. Mesmo assim conseguimos tirar algumas fotos bem bacanas!

Depois disso o Edson iria continuar o plano de seguir até o Agudo de Cotia, mas para mim terminava por ali a investida. Do jeito que minha perna estava, tentar descer a encosta do Ciririca seria suicídio. A montanha estará lá por muito mais tempo, decidi ficar no cume e tomar café com calma, descansar mais e me poupar para a longa descida. Aproveitei para assinar o caderno do cume, tirei mais algumas fotos do Agudo, das paisagens...
Julio e Bárbara só acordaram quase nove da manhã. O Edson descera por volta de 07:40h e então decidiram esperar por nós, já que eu não desceria sem o Edson.

Lentamente comi meu café da manhã, montei minha mochila, desmontei a barraca, coloquei algumas roupas ao sol...deixei tudo engatilhado para descermos tão logo o Edson chegasse. O tempo foi passando e nada, começamos a ficar preocupados com ele até que o Moisés conseguiu avista-lo voltando após subir na placa pra poder observar a trilha.

Ficamos mais tranqüilos e o Julio sugeriu que eu começasse a descer já que minha perna estava bem ruim com dor mais intensa na descida. Concordei já que o Edson estava a caminho e ele o esperaria junto do Moisés. Decidido assim, Bárbara e eu começamos a descer da montanha.

Um pouco mais à frente no cume do Ciririca o Julio nos alcançou. Só o Moisés ficou por lá esperando pelo Edson. Continuamos a descer ficando combinado que esperaríamos por eles no “última chance” por meia hora.

Lá chegamos sem muita correria, com calma, nos refrescamos com a água do rio, fizemos um lanche rápido, sempre nos divertindo com as piadas do Julio...ê figuraça kkkkkk

A essa altura a Bárbara me ofereceu um analgésico que tinha, disse que era bem forte e me ajudaria com a dor. Fazemos qualquer negócio para sair daquela dor e desfrutar da linda trilha de retorno pela parte “de baixo” com plenitude. Tomei um comprimido.

Esperamos por quarenta e cinco minutos e nada. Continuamos nosso caminho, a próxima parada combinada e ponto de espera definitiva seria a Cachoeira do Professor. Se a trilha que fizemos no dia anterior fosse como a da parte baixa, chegaríamos horas mais cedo...Que trilha agradável...Bem úmida o que reduz o calor, grande oferta de água, bem mais limpa de vegetação e as mochilas e braços arranhados agradecem...Claro, a vantagem da trilha por cima é o visual fantástico da serra, que é exuberante!

Chegamos na cachoeira e resolvi fazer um miojão pra repor um pouco da energia. Quando acendi o fogareiro o Edson e o Moisés chegaram. Agora todos reunidos, descansamos ali um pouco, uma subida forte nos esperava pela frente.

Lá vamos nós de novo. Subida forte mas agradável, e pelo simples fato de ser subida não me causava dor na perna. Essa hora o analgésico também já fizera efeito e a dor estava bastante suportável até mesmo em descidas. Tocamos bem o caminho.

Fomos alcançados nessa subida por um conhecido do Edson e do resto do pessoal, tornou-se o sexto membro da aventura por alguns minutos. Quando chegamos a bifurcação para o camapuan ele se despediu de todos e se adiantou pela trilha.

Ainda levamos algum tempo pra chegar na fazenda, e quando vimos aquele gramado onde começa a trilha já era noite. A solução foi sentar nas pedras, pedir refrigerantes e coxinhas e bater papo. Cada caloria era uma explosão de felicidade dentro do corpo de cada um de nós, aposto! Mas para mim, tinha todo um sabor delicioso de vitória. Afinal de contas, agüentei toda aquela dor infernal que só eu sei como foi, e mesmo assim não desisti da montanha, sempre com o apoio do Edson na subida, e com o apoio de todos na descida.

Enquanto Bárbara e Moisés trocavam o pneu do carro dela, eu e Edson comíamos. Depois de resolvido o problema fome e o problema pneu furado, Julio, Edson e eu fomos andando pela estrada pra que o peso no carro fosse aliviado, facilitando assim o primeiro trecho da estradinha que é bem ruinzinho. Bem, Julio e Edson andavam, eu me arrastava. O efeito do remédio já era, é descida, e ao chegar na fazenda o psicológico meio que pensa “não acredito, consegui, trouxe esse pedaço de carne preguiçoso até aqui, agora posso descansar!” e por isso o corpo relaxa, o gasto de energia é tremendo então é normal ficar mais sensitivo a frio e condições de cansaço depois de sei lá, uns 40km de caminhada somando a subida e a descida.

Por causa disso a dor estava quase insuportável na caminhada na estradinha, mas não falei nada pra não perturbar os dois que comentavam sobre algumas montanhas da região. Agüentei firme até chegarmos no carro, quando pude desabar sentado...he he he

E foi assim que toda a aventura teve um final feliz, com mais algumas parcerias estabelecidas, mais montanhas lindas visitadas, e mais algumas centenas de fotos!

Ah sim, faltou explicar o título do relato: De cinco em cinco porque na última investida eu e Edson fizemos seis cumes sendo que um deles nem contamos que é o platô de Monte Verde. Não chega a ser uma montanha. Portanto ficaram na lista de visitas a Pedra Redonda, a Pedra Partida, o Pico Chapéu do Bispo, o Pico do Selado e o Pico das três Pedras (nome que demos a montanha). Nesse final de semana muito longe de ser fácil como Monte Verde, os cumes visitados foram Camapuan, Tucum, Cerro Verde, Pico Luar e o misterioso Pico Ciririca (Parofes para por aqui), sendo que para o Edson foram seis, já que ele foi até o Agudo de Cotia! Ae Japa parabéns cara, montanha para poucos!

O RETORNO:

Julio nos deixou na rodoviária de Curitiba por volta de 19:30h. Nos despedimos e imundos, fedorentos e com dezenas de lesões fomos ao guichê da Itapemirim e compramos as passagens para retorno a São Paulo pro horário de 22:00h.

Lanchonete, lanche, bebida, satisfação, felicidade. Sentamos e ficamos curtindo as fotos para as horas passarem. Quando a hora chegou embarcamos e fomos embora. Edson literalmente saiu da tomada e desmaiou de sono, eu também dormi mas um pouco desconfortável por causa do joelho que ainda doía barbaridades...Não consegui apagar por completo.

Lá pelas onze e alguma coisa ouvi um barulho de impacto, estilhaços, mas como o ônibus continuou andando não dei muita atenção, pensei que tivesse sido alguma coisa que aconteceu com algum carro vizinho pois na madrugada o som se propaga muito mais facilmente. Entretanto, depois de uns cinco minutos e 4 ou 5 kms a frente o motorista parou e comunicou a todos que alguém na estrada havia atirado uma pedra contra o ônibus, e por isso teríamos que aguardar a troca de veículo e o Boletim de Ocorrência. Aquilo não era uma pedra, era um pedaço de concreto que deveria ter pelo menos 1 kg! Por sorte atingiu o primeiro assento e nenhum passageiro estava ali.

Não sei ao certo, mas acredito que isso seja tática de ladrões de estrada para que o motorista pare e seja rendido...Felizmente ele só parou alguns quilômetros depois e se era uma tentativa de assalto, provavelmente foi frustrada com essa atitude.

Só faltava essa...Ficamos parados por 90 minutos ali até que toda burocracia foi cumprida e a troca de carro foi feita para seguirmos viagem.

Eu não dormi quase nada, não tinha posição que diminuísse a dor no joelho e só dei alguns cochilos até que as cinco da manhã despertei de vez e fiquei acordado desejando um banho e uma pomada salompas pra perna. Chegamos na Tietê já tarde, sete da manhã! Pegamos o metrô e fomos contaminando o ar juntos até a Sé. Lá o Edson desceu. Eu ainda causei náuseas aos outros passageiros até a Conceição.

Quando cheguei em casa joguei tudo no chão, tirei a roupa e mais mato caiu, a meia cheirava a queijo, o suvaco a peixe podre, e o cabelo a mato molhado. Tomei um banho e depois dele provavelmente perdi mais meio quilo só de sujeira. Me vesti e fui trabalhar!

Fica aqui um forte abraço ao Julio Fiori que topou a investida conosco no mesmo dia de nossa partida, Moises Lima e Bárbara pelo mesmo motivo, e por serem companhias tão agradáveis durante a pernada. Valeu pessoal, foi um imenso prazer conhece-los e estar em uma das montanhas mais difíceis do Paraná com vocês!

O joelho? Já está quase zero bala. Dá pra acreditar? Risos...

Agora sim, vamos as fotos:


Eu no cume do Camapuan, Ciririca ao fundo. Foto: Edson Vandeira



Eu no cume do Tucum, Ciririca ao fundo. Foto: Edson Vandeira



Edson a frente no começo da descida do Tucum. Daí pra frente só piora!



Eu no cume do Cerro Verde com o Pico Paraná ao fundo. Foto: Edson Vandeira.



Nós dois no cume do Pico Luar.



Ferimento.



Nascer do sol visto do Ciririca.



Uma das famosas placas.



Eu sob uma das placas. Foto: Moisés Lima.



Agudo de Cotia visto do Ciririca.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Brincando de movie maker - Parte 2

Continuando a brincadeira dos vídeos, agora fiz da terceira investida da viagem, o vulcão Sairecabur e seus 6.046 metros de altitude.
Essa foi a investida mais difícil do projeto, subir um seis mil não é fácil mesmo. Exige muita concentração e força de vontade...
Mas consegui, e tirei muitas fotos das montanhas vizinhas, inclusive do lindo Licancabur que era um dos objetivos do projeto. Não consegui ninguém pra dividir o custo do guia pra subir ele (e lá não se pode ir sem guia pois o lado boliviano é campo minado!!!).

Não tem problema, afinal de contas eu estava exatos 130 metros mais alto que o cume do Licancabur! he he he



Abraços.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Brincando de movie maker

Finalmente, após quase dois meses de meu retorno das férias, quando concluí com sucesso meu projeto "33 dias, 33 mil metros", fiz o primeiro vídeo. Aí vai!




Abraços

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Numerologia das montanhas de Monte Verde.

Era 03 de junho de 2009 quando decidimos, eu e meu parceiro Edson Vandeira, em ir para a belíssima cidade de Monte Verde, que fica a apenas 2 horas e 50 minutos de São Paulo, totalizando o tempo de 2 ônibus, chegando na cidade que é em Minas Gerais.

Após o primeiro ônibus que levou apenas 120 minutos, pegamos o segundo em Camanducaia que em apenas 50 minutos nos deixou no portal da cidade, onde começamos a andar.

Chegamos na entrada na rua que leva a Pedra Redonda e Pedra Partida. Logo que começamos a subir, um carro passou por nós e quem conduzia era um conhecido do Edson. A carona foi muito bem vinda pois a caminhada da estrada que levaria pelo menos 90 minutos, se transformou em apenas 5 minutos de carro até o estacionamento onde saem as trilhas.

Sem muita demora entramos na trilha para a Pedra Redonda, e após 14 minutos chegamos ao seu cume, ultrapassando várias pessoas que sobem a mesma trilha para chegar na Pedra e ter a bela vista de seus 1.990 metros de altitude. Engraçado é ver mulheres de salto alto, jeans, cachecol, perfume, brincos enormes, casaco de pele...Subindo a trilha barrenta e na metade do caminho dizer ao namorado “-Só essa que vamos, não agüento mais!”. Escutamos isso pelo menos 5 vezes.

Havia pelo menos umas 40 pessoas no cume, muitas crianças com seus pais, muito salto alto...Todos tirando fotos. Por isso obviamente não apreciamos NADA do cume, tiramos 25 fotos, e após somente 5 minutos no cume da Pedra, viramos e voltamos pela trilha para pegar a bifurcação para a Pedra Partida, 2ª maior montanha da região com 2.050 metros no ponto culminante.

Pensamos que teríamos mais sossego por lá e que almoçaríamos sem muito transtorno, então fomos embora. Mais 34 minutos e atingimos os 2.050 metros da Pedra. Que vista! Linda demais, fizemos 92 fotos nesse cume e após bater um papo com um casal que estava lá sozinho, começamos a fazer o almoço. Macarrão instantâneo com salada seleta e salaminho fatiado. Para bebida: Suco de limão. Manjar dos Deuses.

Quando estávamos acabando de comer, começou a chegar mais gente. Contei mais 13 pessoas além de nós 2. Começou a ficar muito cheio de gente e decidimos descer imediatamente após ficar no cume da pedra por exatos 105 minutos, deixando o cume às 14:20h.

Como diz o ditado, “para baixo todo santo ajuda”. Descemos mais rápido do que subimos, em somente 35 minutos descemos da Pedra Partida até o estacionamento, onde completamos o meu reservatório de 3 litros d’água, e entramos na trilha para o Pico Chapéu do Bispo.

Com todo o pique, levamos 22 minutos para chegar ao Chapéu do Bispo e seus 2.030 metros de cume. Vista linda, exatamente no meio do caminho entre a Pedra Partida e o Pico do Selado, na outra ponta do complexo de montanhas de Monte Verde.

Entramos na chaminé que leva ao cume e pronto, fotos. Ali em cima foram mais 36 fotos. Foi muito legal ver como já estávamos distante da Pedra Partida, e como foi fácil chegar até ali. Tínhamos agora o horário um pouco apertado para chegar ao Pico do Selado, então viramos as costas e descemos, entrando novamente na trilha.

Pela trilha levamos mais 12 minutos para chegar até o platô com seus 1.900 metros. Só 4 minutos depois que iniciamos nosso caminho senti câimbras nas duas pernas, mas decidi continuar caminhando assim mesmo e chegamos sem maiores transtornos. Lá havia mais pessoas, 18 para ser exato. Por isso só ficamos ali por 4 minutos e 8 fotos, e novamente entramos na trilha sentido Pico do Selado.

A trilha é muito fácil mas, depois de 34 dias de pura inatividade dos quais 17 dias de uma quase pneumonia que me custou 127 reais em remédios, senti um bocado de falta de ar para chegar lá. As pernas estavam muito bem obrigado, mas os 2 pulmões ainda não estão 100% recuperados. Mas isso era só 1 detalhe.

Nessa hora questionei uma coisa. Entre o Pico do Selado e o Platô de Monte Verde há um pico, nítido e bem no meio do caminho. Há um vale que separa ele do platô, e ele do Pico do Selado. Ele é sem dúvida muito maior do que o platô e pouco menor que o Pico do Selado, porém não tem nome. Por que será? Sei lá...

Passados os 4 minutos entramos na trilha. Que trilha agradável, repleta de bosques lindos, bem úmidos, e de vegetação baixa. As árvores não passam de 5 metros, isso significa que com a copa das árvores um pouco separadas, a luz do sol passa e faz iluminações lúdicas!

Após 55 minutos de caminhada e escalaminhada chegamos ao cume do Pico do Selado, mas não é o cume verdadeiro. Ali é só para acampar e tomar a trilha para o pico vizinho (logo chego nele). Para chegar ao verdadeiro cume é preciso dar a volta na pedra do cume, passar sob uma rocha pequena de uns 80 centímetros, e fazer uma pequena escalada de 4 metros e pronto. O cume está ali. Mas assinar o livro não é de graça, é preciso pular uma fenda de 70 centímetros de largura e 5 metros de profundidade para chegar lá. “O pulo do gato”.

Queríamos pegar o pôr do sol sobre o cume da montanha mais alta da região, o Pico do Selado e seus 2.083 metros de altitude. Após montar acampamento e subir ao cume, comecei a assinar o livro as 17:35h, e o sol começava a se pôr.

Sensacional, foi o pôr do sol mais lindo que já vi em meus 31,5 anos de vida. Só nestes 35 minutos que durou esse fantástico show de cores, tiramos 157 fotos. Descemos maravilhados e com frio pois a temperatura já caíra cerca de 15 graus.

A hora mais esperada do dia: 19:00h e o jantar: Feijoada. Jantamos aquela refeição maravilhosa, e depois disso e de limpar tudo e recolher o lixo, ainda apreciamos a lâmpada de casa (Lua) iluminando a barraca por mais 17 minutos.

Tiramos ali mais 9 fotos e nos recolhemos na barraca para dormir depois de tanta atividade, tanta comida e 5 cumes conquistados. Merecíamos descanso. As 20:00h as 2 lanternas de cabeça foram apagadas, porém a luz do quintal de casa permanecia acesa: A Lua. Sua luz era tão forte que fazia a cor da cobertura da barraca iluminar o seu interior na cor laranja.

Depois de 180 minutos de sono profundo, acordei. Era 23:00h e quando olhei para o Edson ele me disse “Cara já dormi um bocado e achei que já estava amanhecendo, mas são só 23h!”. Também não acreditei. Assim sendo, chegamos a decisão democrática e benéfica aos nossos corpos de tentar dormir mais. Tentativa em vão...O relógio marcava 2,5 graus celcius, 2 minutos pareciam 20. Não para por aí, 4 minutos pareciam 40, e 6 pareciam 60.

Noite interminável, a luz continuava iluminando tudo veementemente, e dormir era quase impossível. Algumas cochiladas de 20 ou 30 minutos, mas só isso. A última cochilada só durou 21 minutos e acordei exatamente as 04:51h. Esperei que os 2 relógios despertassem as 05:00h, pois subiríamos ao cume do Pico do Selado mais uma vez, dessa vez para ver o nascer do sol. Foi o que fizemos 35 minutos mais tarde.

As nuvens pregaram uma peça e nos fizeram esperar até o último minuto para começar a tirar as fotos. No total (exagero?) tiramos 196 fotos do nascer do sol! Foi um espetáculo da natureza tão lindo quanto o pôr do sol da noite anterior.

Ficamos no cume por mais 190 minutos para tirar todas essas fotos, trabalho que nos custou provavelmente 150 minutos, sobrando 40 pra curtir o visual inacreditável de tapete de nuvens “até onde a vista pudesse ver”.

Ponderamos bastante sobre a montanha vizinha que tem 3 pedras grandes no cume, uma delas inclinada em um ângulo de 70 graus, montanha também sem nome. Na descida procuramos por uma trilha até lá. Depois de 1 minuto andando e só 25 metros a frente chegamos a um enorme platô de uns bons 150 metros quadrados. Quase perfeito para camping, só não é perfeito porque é de frente para o vale, e sua formação é propícia para bastante exposição a ventos que sobem do vale que separa o Pico do Selado do pico vizinho sem nome nem altitude definidos.

Estávamos um pouco cansados, mas no platô encontramos o que parecia ser uma trilha levando a esse pico. Entramos nela. Muito fechada, provavelmente ninguém passava por ali por um bom tempo. Vegetação fechada em alguns pontos, e em outros, fechada a apenas 60 centímetros do chão, quando não menos. O jeito foi rastejar para passar, ou quebrar os bambuzinhos malignos.

A distância entre os picos é curta, cerca de 300 a 400 metros de trilha que quase inexiste. Demos a volta por trás da pedra e encontramos um jeito de subir por uma encosta cheia de limo, vulgo sabão. Subimos segurando na vegetação seca e logo chegamos ao cume. A jornada levou 37 minutos porém o visual, uma eternidade.

Pois bem, essa investida me custou 9 arranhões nos braços, 4 roxos nos joelhos e 1 espinho cravado entre 2 dedos da mão esquerda. Valeu a pena cada contusão e todas as 39 fotos ali tiradas.

Por lá ficamos mais 25 minutos e depois avançamos mais ainda pela crista do cume até o outro lado, onde há mais uma enconsta que desce até o nível da floresta. Tudo bem, uma bela pedra sugeriu novos ângulos para fotos e tiramos mais 28.

Após isso decidimos voltar porque a mata para retorno é bem chatinha, e já havia cerca de 200 minutos que não tínhamos mais água, pois acabei com os últimos 600 ml fazendo 2 copos de chá de coca para nosso café da manhã antes do sol nascer. A sede já era um problema e pensando nisso, e no fato de que o primeiro ponto de água é na metade da trilha do platô para a cidade, a cerca de 55 minutos de caminhada da barraca, decidimos desmontar o acampamento e retornar imediatamente.

O retorno foi mais rápido, somente 27 minutos e estávamos na barraca desmontando tudo, recolhendo o resto do lixo (incluindo uma lata de cerveja e uma garrafa pet que encontramos lá deixadas pelos PDM – porcos de montanha). Levamos mais 11 minutos para ficar prontos e tomar nosso rumo de retorno.

Levamos 43 minutos até o platô, e mais 12 até o ponto de água onde chegamos bastante sedentos. Ali sentamos e ficamos por 18 minutos, que foi o tempo necessário para fazermos outros 1,5 litros de suco de limão, eu comer a outra metade do salame e o Edson comer seus 280 gramas de bolo.

Logo descemos e chegamos na cidade. Sem perder muito tempo fomos a uma lan house, onde providenciamos o backup de todas as 590 fotos e 8 vídeos para os 2 cartões de memória do Edson, assim ele não precisaria esperar pelo envio posterior dos 2 cds que seriam necessários para gravação dos 1,1GB de arquivos!

Missão cumprida, 6 cumes conquistados sendo 1 deles sem nome e pouco explorado, começamos a caminhada de 30 minutos até a padaria de onde sai o ônibus de 15:00h para Camanducaia, onde 110 minutos mais tarde pegaríamos o de 16:50h para São Paulo.

Na padaria pedimos 2 cheeseburguers a um custo de R$ 3,00 cada (e que cheeseburguer!), comemos e entramos no carro que nos deixou em Camanducaia exatamente as 16:04h. A passagem até São Paulo custou R$ 16,48, e lá chegamos as 19:08h.

Foi um final de semana perfeito. Tempo ideal e montanhas lindas. Só faltou a geada e o frio mais severo que atingiu a cidade apenas 48h antes de nossa chegada. Mas enfim, fica pra próxima.
Montanhas fáceis? Sim, mas não deixam nada a desejar em beleza, muito pelo contrário! Posso afirmar sem sombra de dúvida que Monte Verde é uma de minhas cidades preferidas para a prática de montanhismo.

Próxima investida a montanha só daqui ha 11 dias. Até lá, 590 memórias continuarão me fazendo pensar que quando respeitada, a natureza nos dá MUITO em troca, 365 delas por ano. E por que não 730? 1460? 2920? ............

12 fotos para apreciação:


Lindo nascer do sol visto do cume do Pico do Selado.



Eu no cume do Pico do Selado. 2.083 msnm. O livro de cume aos meus pés. Foto: Edson Vandeira.



Astro rei em minhas mãos. Foto: Edson Vandeira.



Pedra Partida ao fundo no momento do nascer do sol. Foto: Edson Vandeira.



Cuspindo fogo? Foto: Edson Vandeira.



Para o alto, e avante! Foto: Edson Vandeira.



Eu assinando o livro de cume do Pico do Selado. Foto: Edson Vandeira.



Eu no cume do Pico Chapéu do Bispo, a 2.030 msnm. Foto: Edson Vandeira.



Eu no cume do pico sem nome que batizamos de "Pico das 3 Pedras" a 2.040 msnm. Foto: Edson Vandeira.



Edson Vandeira e eu na Pedra Redonda, 1.990 msnm.



Eu e Edson Vandeira no ponto culminante da Pedra Partida, a 2.050 msnm.



A hora de voltar...Tudo que é bom dura pouco...