terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Conhecendo o Prateleiras de dentro para fora!

Mais um mês se passa, mais uma investida de experiência, fugindo da loucura da cidade com o segundo pior trânsito do mundo, indo de encontro às mais belas montanhas brasileiras.

Desta vez, além da companhia do Edson Vandeira que acabou de retornar da Argentina conquistando o cume do São Bernardo e do Cerro Plata, tive um novo companheiro, Carlos Moura, que conheci por intermédio do Edson. Carlos Moura é Mestre em Meteorologia, e está se iniciando no montanhismo, já fez algumas travessias muito legais e tem uma boa disposição pra caminhadas. O único problema que ele tem é o mesmo que eu tenho, falta de tempo.

O prognóstico do tempo não era muito confiável. Sol pela manhã, tempo nublado pela tarde e pancadas de chuva no pôr do sol. Arriscamos e fomos com tudo. Encontrei o Edson na Tietê e juntos fomos até Cachoeira Paulista, cidade onde o Carlos mora e trabalha. De lá seguimos de carro até Itamonte, e em seguida subimos a serra até a entrada do Alsene.

Chegamos muito tarde, 03:00h da matina. Só então fizemos a janta, cada um com seu fogareiro, e comemos. Depois que terminamos de comer e lavar os utensílios, já era 04:00h e nem valeria a pena pagar o camping por duas horinhas de sono...Dormimos no carro mesmo até 05:30h. Apesar de ser verão, a serra sempre é fria a noite, fazia cerca de 8°C.

O relógio despertou e antes de 06:00h estávamos na portaria do parque. Como o guarda-parque ainda não havia chegado, entramos no parque cerca de 1km só pra tentar tirar fotos do nascer do sol. Nossa, que fotos! O sol nasceu absolutamente sangrento, vermelho vivo! Tivemos a idéia de subir em uma pedra e tirar nossas fotos em sombra na frente do sol...Grande idéia! Antes mesmo de começar a andar já havíamos gasto bons 40 minutos só batendo fotos...



Edson Vandeira e eu na entrada do PNI. Foto de Carlos Moura.


Voltamos a entrada do parque e ainda esperamos mais alguns minutos, batemos fotos de uma aranha muito louca que vimos lá, que mais tarde recebemos a explicação de tratar-se de uma espécie da família das viúvas negras, com o abdome em formato piramidal. Sim, era venenosa e em caso de alergia, a picada poderia provocar hospitalização! Aparentemente ela estava em época de reprodução pois a vimos em todo lugar pelo parque.

Nos registramos na portaria com intenção de chegar a Pedra do Sino de Itatiaia. Mas o guarda-parque falou tanto que ficamos com receio de não conseguir chegar ao cume da pedra e ter que voltar depois de perder horas. Alcançar seu cume iria exigir atravessar dois riachos que provavelmente estariam com o nível muito alto por causa das chuvas que são diárias no verão. Mal passamos pela portaria, o Edson deu a idéia de subirmos o Prateleiras.

Sim, foi um bocado em cima da hora, mas não sabíamos o quanto seria agradável a escalada...
Não pegamos nenhuma informação. Dali mesmo seguimos pela estrada até que terminasse com a placa de uma travessia. Pegamos a trilha que começa à direita. Era apenas 08:00h da manhã, tínhamos o dia inteiro para a investida.

Começamos a andar sem pressa, aproveitando ao máximo as paisagens e tirando muitas fotos, e sem muita demora chegamos a base da montanha. Incrível, de perto, a apenas 100 metros do começo da escalaminhada, o Prateleiras impressiona não somente pela sua beleza rara, mas também pela sensação de dificuldade que ele passa. Só nos incentivou mais ainda!

Seguimos pela sua esquerda e de longe avistamos a Pedra da Tartaruga, nessa hora eu vibrei! Só havia visto a pedra por fotos e sempre tive vontade de ser fotografado ao lado dela. Avancei os passos e em 3 ou 4 minutos estava lá, sob a pedra! Incrível formação rochosa, linda, gigantesca! Edson e Carlos tiraram várias fotos...Depois disso avancei mais ainda e vi no final daquele descampado o tapete de nuvens logo atrás de uma elevação, indescritível...Já vi muitos tapetes brancos mas esse tinha todo um gostinho especial...Subi em uma pedra e tiramos várias fotos...várias mesmo!



Eu admirando a beleza do PNI...




Eu ao lado da Pedra da Tartaruga!



Levamos somente uma hora de trilha até a base da montanha, mas perdemos exatos 40 minutos só tirando fotos da tartaruga, do lago, dos visuais, nuvens e etc...Como era bom estar ali! Nós três vibrávamos muito...

Como já era 09:40h, interrompi a sessão de fotos e insisti para que seguíssemos caminho, já que não sabíamos o caminho correto da trilha e precisávamos encontrar o caminho até o livro do cume. Seguimos. Primeiramente, fizemos um ataque lateral próximo a pedra maior (onde fica a chaminé do Idalício), pois ali há uma seqüência de pedras trepadas que sugere um caminho possível. Nada. O altímetro do relógio marcava 2.480 metros de altitude quando chegamos a um ponto que não havia mais por onde ir, literalmente desbravando a mata. Retornamos após literalmente subir a montanha quase toda, pois faltavam apenas 68 metros para seu cume.

Frustrados, decidimos continuar ainda com um ataque lateral porém mais por trás da montanha, justamente onde há uma imensa rocha em formato losangular encaixada entre dois paredões. Novamente lutamos contra a mata, e chegamos a marca de 2.500 metros de altitude. Ficamos abaixo da rocha, no coração da montanha. Não havia mais como subir. Lá no interior há um encontro de dois imensos blocos de rocha, e uma fenda entre elas de no máximo meio metro de largura, mas que continuava por vários metros para frente e para baixo. Uma vista alucinante! Fizemos fotos, vídeo e aproveitamos ao máximo aquele momento, pois apesar de não atingirmos o cume pela segunda vez no mesmo dia, estávamos no coração da montanha!

Depois da felicidade inicial veio o desapontamento. Mais uma tentativa frustrada. Dessa vez chegamos mais próximos ainda do cume, mas não conseguimos. Descemos tudo novamente, e a essa hora o psicológico já começou a atuar, começou a bater um desânimo pelo fracasso. Mesmo apesar de estarmos longe de alta montanha, longe da rarefação dos Andes, longe do frio congelante...

Resolvemos por uma última tentativa. Voltamos até a parte da trilha onde avistamos a Pedra da Tartaruga. Lá encontramos outra bifurcação que levava a um ataque frontal, seguindo pela pedra maior. Não havíamos tentado essa por isso fomos. Novamente muita escalaminhada, e perigosa porque choveu muito nos dias anteriores, por isso as pedras estavam muito escorregadias, todo cuidado era pouco. Passamos pela frente da placa firmada celebrando a conquista da Chaminé do Idalício, fotografamos e seguimos, encontrando possíveis passagens que ganhassem altitude.

Chegamos a um pequeno amontoado de pedras e dali não vimos saída. Novo fracasso? Víamos a pedra maior ali, na nossa frente, e apenas 35 metros acima seu cume que não podíamos ver. Que provação...Respiramos fundo, avaliamos outras rotas, até que avistamos poucos metros abaixo e cerca de 10 minutos de trilha para trás um grupo de 4 pessoas vindo pelo mesmo caminho que viemos. Bom sinal, isso significava que apesar de não encontrarmos o caminho para o cume, estávamos finalmente na rota correta.

Fato. Quando o grupo chegou, um dos quatro era guia do parque credenciado, nos desejou um bom dia e apontou para o lado dizendo “é por aqui ó!”. Nossa, inacreditável, o caminho correto era ali, a apenas 3 ou 4 metros de onde estávamos sentados, descendo por debaixo de uma pedra e continuando pelo interior da montanha até uma pequena floresta que cresceu perto do cume do Prateleiras. Obviamente seguimos o grupo. Passamos por mais aranhas daquela, só que adultas. Chegamos às rochas do pré-cume e após cinco minutos de rampas e canaletas, além da cordada final, merecidamente, o cume e seu livro.



Cansados, no cume do Prateleiras a 2.548 msnm




Eu assinando o livro do cume do Prateleiras.


Apesar do que muitos dizem, o cume do Prateleiras não é tão fácil de ser encontrado sem acompanhamento de alguém que já conheça o caminho, ou um guia. É por isso que eu sempre digo: Toda montanha tem sua importância. Mesmo que tenha pouca altitude, por menor que seja, ela deve ser respeitada. Sempre digo que o único problema da montanha é o excesso de confiança do montanhista. Quase sempre o excesso de confiança anda lado a lado com a imprudência. Nesses casos, acidentes acontecem, e quase sempre fatais.

Se acidentes acontecem mesmo quando o montanhista é cauteloso, prudente, imaginem só quando ele é impulsivo, impaciente...Facilita muito uma desgraça não?

O Prateleiras tem muita altitude? Não, está entre os 30 maiores do Brasil. É fácil chegar ao seu cume de primeira sem acompanhamento de um conhecedor do caminho, sendo ele guia ou não? Absolutamente que não! É uma montanha muito imponente quando olhado de perto, e chegar ao seu cume após explorar seu coração, na terceira tentativa, literalmente subindo a montanha três vezes no mesmo dia, não teve preço. Ficamos muito felizes com a conquista.

Tiramos muitas fotos. Assinamos o livro do cume, apreciamos a vista por uns bons vinte minutos. Após isso agradecemos ao guia pela indicação do caminho correto, e começamos a descida. Estávamos cansados, com fome, mas realizados.

O tempo? Nossa, inacreditavelmente, sol. Não caiu uma gota de chuva sequer. Que sorte, que sorte...

Descemos a um ritmo mais lento, sem pressa, tirando mais fotos. Mesmo assim eu torci, DE NOVO, o mesmo tornozelo direito. Algo está errado com esse tornozelo, preciso ir a um ortopedista. Chegamos a trilha e entramos nela tomando o caminho de volta. O final da caminhada após o Rebouças rumo a entrada do parque foi cruel. Não importa quantas vezes eu vá ao PNI, todas as vezes eu penso “como pode essa estrada aumentar de tamanho!?” he he he...

Chegamos a entrada às 16:30h, completamente arrasados, quase sem forças para andar. A empreitada foi pesada por causa das duas tentativas frustradas. Isso nos consumiu muita energia, e comprometeu a investida do dia seguinte como contarei adiante. Entreguei a faixa de responsável e descemos até o Alsene onde, desesperadamente, pedi um misto-quente (risos). Enquanto esperávamos o sanduíche, a chuva caiu. Apenas cinco minutos e sem nenhuma intensidade. Pensamos “pode cair quanta água for, já fizemos nossa conquista!”.

Comemos o sanduba, bebemos uma coca-cola e fomos ao final do Alsene para montar o acampamento. No mesmo local onde eu e Edson ficamos da última vez, de frente pro vale com vista privilegiada. Parecia que a bateria do corpo estava exaurida. A solução era comer e dormir. Fizemos um verdadeiro banquete: Eu levei miojo de camarão, atum enlatado e salada seleta enlatada. Carlos levou talharim, e Edson levou um risoto desidratado que era uma verdadeira delícia. Cozinhamos tudo e trocamos alguma quantidade um com o outro de maneira que todos comecem de tudo. Nossa, que janta farta! E ainda matamos a sede com tang de limão feito com água do córrego Agulhas Negras! Quer coisa melhor? A janta foi providencial, ao acabar de comer já me sentia consideravelmente melhor.

Como montamos o acampamento antes de comer, bastava lavar a louça e dormir. Foi o que fizemos. Apenas 19:00h todos para suas barracas, sem nenhuma obrigatoriedade de silêncio absoluto (o que significava que todo mundo poderia roncar o quanto quisesse) e dormimos incríveis 11 horas sem nenhuma interrupção! Isso não foi muito bom pois o corpo descansou até demais.

Ao amanhecer mais um prêmio: Assim que acordei vi um bicho-pau dentro do avancê da barraca! Não via um desses há 26 anos, fiquei muito animado e tirei várias fotos do animal. Me lembro exatamente a ocasião que vi um: 1982, eu estava em Iguaba com meus primos na casa da avó deles, tinha apenas 6 anos incompletos de idade.

Enfim, levantamos acampamento, secamos as barracas, guardamos tudo e deixamos os mochilões no carro seguindo apenas com a mochila de ataque, pois a tentativa do dia era o Agulhas Negras! Edson e Carlos pela primeira vez, e eu pela segunda vez.

Dessa vez demoramos muito mais para começar a andar pois precisamos convencer o guarda-parque que eu conhecia o caminho e que o único item que não tínhamos era a cadeirinha, que eu deixei em casa! Levei minha corda de 35m, 3 mosquetões e minha sapatilha, já na intenção de estrear tudo no Agulhas.

Após um longo papo ele autorizou a nossa entrada rumo ao Agulhas. Pagamos e fomos. Logo no começo senti que a assadura das três investidas do dia anterior iria incomodar. O tornozelo também doía um pouco mas nada que me impedisse de guiar meus parceiros ao cume do Pico do Cruzeiro.

Fomos a um ritmo mais lento ainda, todos ainda cansados do dia anterior, sob um sol escaldante. Em apenas 40 minutos chegamos a base da montanha logo após o córrego, e sem muita demora iniciamos a subida. Então o problema que eu já havia verificado no dia anterior se mostrou ser mais grave do que pensava. Minha bota estava sem aderência nenhuma. Eu tinha que ser cauteloso em dose dobrada por causa disso. Acabei atrasando nossa subida por conta dos três fatores: Assaduras, tornozelo e bota de sabão. Mesmo assim, fomos montanha acima.

Conversei com meus parceiros que precisava que confiassem no meu julgamento. Se eu decidisse que não teria jeito, iríamos abdicar de nossa subida. Deixei isso bem claro com eles na presença do guarda-parque, e eles concordaram. Como eu era o responsável, uma palavra minha e voltaríamos.

Já nas rampas dei uma arranhadinha em escalada em rocha, quando passamos por uma parte que tínhamos opção de seguir pelas rampas da direita, rampas da esquerda, ambas com a tradicional inclinação de cerca de 40 ou 45° do Agulhas Negras, mas no meio havia um pedaço de uns bons dez metros que essa inclinação chegava perto dos 70°!!! Não resisti, segurei na fenda e subi na unha. Encontrei uma boa aderência (milagrosamente) e consegui vencer a inclinação sem muita dificuldade! Edson e Carlos me esperavam mais acima e tiraram algumas fotos!

Continuamos. Bem mais acima, após as 3 seqüências de rampas, chegamos àquela bifurcação onde a direita há uma trilha com bambuzinhos, e a esquerda há uma parede que um conhecido meu classificou como 7° grau. Dali, na trilha, é possível ver um grampo P no topo da rampa, uns dez metros acima. Ali tirei a bota, vesti a sapatilha, atravessei a corda no tronco com um mosquetão e tentei a escalada. Pulei me segurando na canaleta, subi ficando de pé nela, e ao lado há uma outra canaleta que leva ao topo. Fiz a primeira tentativa. Não tive aderência e escorreguei parando onde comecei. Sem me estressar descansei por uns três minutos e tentei novamente. A mesma coisa, não estava pisando no local certo, o tornozelo doía, as assaduras assavam (risos) e foi um somatório de fatores que impediram o sucesso. Então pensei: “Um é pouco, dois é bom, três é demais!” Não fiz a terceira tentativa. Desci porque achei mais prudente. Passei a sapatilha pro Edson que, com um pouco de dificuldade, conseguiu de primeira!

Quase escorregou de volta, mas chegou ao topo no grampo. Fez um nó 8 no mosquetão, e nos desceu a corda. Subimos e continuamos pela rampa de cima, que é a última antes da escalaminhada pro cume. Ali eu já estava bastante cansado, com dores no tornozelo e no interior das coxas, mas não insistia muito em pensar nisso. Procurei abstrair. Daí pra frente foi mais fácil, apesar da absoluta falta de aderência de minha bota, que nos obrigou a fazer mais uma segurança com a corda já quase na pequena caverna do pré-cume porque eu literalmente não conseguia fixar as botas no chão!

Essa vencemos sem problemas. Mais alguns minutos e estávamos no pequeno platô acima da caverna. Ali um susto. O Carlos subiu sem problemas, e como eu já estava desconfiado da minha bota, pedi que ele me desse uma ajuda. Quando tentei subir escorreguei alguns centímetros de volta e foi um baita susto! Mais pro Carlos do que pra mim, ele se preocupou bastante e me segurou quase que na unha! Mesmo sem a possibilidade de uma queda grave, pois o platô estava apenas um metro e meio abaixo, eu poderia me ferir de forma a impedir o retorno com segurança. Passado o susto, rumo ao cume!

Passamos a corda nos grampos finais e seguimos com segurança ao cume. Felicidade geral! Os dois principais cumes do PNI no mesmo final de semana, mesmo sem assinar o livro do Agulhas porque não sabíamos o caminho, não tira o gostinho de estar ali ao seu lado apenas 1 metro abaixo. Edson e Carlos vibraram bastante de felicidade, eu estava feliz, porém cansado e muito preocupado com o tempo, que dava sinais evidentes de piora. Foi “batata”, apenas cinco minutos após chegarmos ao cume, sentimos gotas de chuva. A chuva caiu por somente uns 3 minutos, e muito fraca! Mas suficiente pra que eu e Carlos ficássemos preocupados, eu por ser bastante cauteloso e ele por ser meteorologista. Enquanto isso, o Edson estudava a possibilidade de assinar o livro (ahahahaha), mas o convencemos que precisávamos descer o quanto antes! Foi o que fizemos.


Nós três no cume do Pico do Cruzeiro - Maciço Agulhas Negras


Iniciamos a descida rapidamente, desescalando as paredes que levam ao cume, ao olhar para o lado avistando o Morro do Cristal no vale do Aiuruoca vi um raio assustador cair, bem ali! Foi um baita aviso, nos apressamos com cautela passando pela caverna, voltamos pelas pedras, passamos pela última rampa, descemos pela parede que o Edson escalou na subida. Dali em diante continuamos mais tranqüilos pois o tempo melhorou um bocado, o sol abriu mais um pouco.

Continuava o problema da minha bota, quase sem aderência, descia com cuidado máximo, agachado sobre meu calcanhar, seguindo as canaletas.

A descida foi bem tranqüila, rapidamente atravessamos o córrego, entramos na trilha, e chegamos ao Rebouças. Nessa parte final, pela própria natureza da atividade (caminhada sob o sol quente) as assaduras voltaram a incomodar bastante. Fazer o que? Faz parte. Continuamos. Chegamos na portaria do parque exatamente às 17:17h. Entreguei a faixa, assinei a baixa. Batemos um papo com o guarda-parque e descemos de carro até o Alsene.

Sem pressa, o relato ainda não acabou! Fechamos a conta no Alsene e pegamos a estrada rumo a Cruzeiro. Chegamos lá exatamente 20:30h e milagrosamente conseguimos um ônibus para Guaratinguetá, pois o último para São Paulo saíra às 19:30h! Que furada! Aqui nos separamos, o Carlos foi pra casa em Cachoeira Paulista e Edson e eu pegamos o ônibus.

Tínhamos que chegar a Guará antes de 22:00h e de lá pegar o último para São Paulo. Com sorte chegamos lá 21:20h e havia vagas no carro! Nossa, respiramos fundo...Compramos as passagens e lanchamos na rodoviária de Guará. Aliás, abandono total essa rodoviária. Muitos pedintes zanzando pelo local, a ponto de sermos interrompidos três vezes por pessoas pedindo dinheiro, drogados, pobres e inclusive um hemofílico que fez questão de nos mostrar uma ferida aberta com um dreno perto do ombro.

Chegou nosso horário e pegamos o ônibus. Que demora...a chegada era prevista para meia noite em São Paulo, mas o ônibus só chegou 00:45h. Para nosso azar, não havia mais ônibus nem metrô. Não pensei duas vezes, paguei R$ 67,00 de táxi pra chegar em casa e poder tomar um banho e dormir antes de trabalhar. O Edson bivacou na rodoviária mesmo seguindo pra casa na manhã de segunda-feira.

Apesar de ter sido bastante cansativa, a viagem teve altos e baixos, uma conquista inesperada que foi o cume do Prateleiras, e uma chegada triunfante ao cume do Agulhas Negras.

Essa viagem só serviu para provar que, repito, toda montanha, por menor que seja, merece respeito dos montanhistas, não somente admiração e vontade de chegar ao seu ponto culminante. O montanhismo não tem sua História registrada somente por sucessos, são inúmeras as vicissitudes que todos passam, ou não, para chegar ao topo de uma montanha. De início já se compreende que, por essência, existe a superação pessoal, ir em busca de suas vontades mentais, diretamente contra as necessidades corporais.

Fiquei feliz pelo duplo sucesso da empreitada, e fiquei feliz também, por incrível que pareça, pelos dois fracassos de tentativa de cume do Prateleiras, que nos permitiram explorar o interior da montanha, muito úmido e calmo. Lá, estávamos no seu coração, conhecendo a anatomia do Pico Prateleiras de dentro para fora!



Adendo:

Conhecemos dois camaradas no Alsene quando comíamos o misto quente. Quando a gente vai pra montanha, sempre acaba conhecendo gente boa, mas as vezes acabamos nunca mais vendo esse pessoal.
Quando fiz o relato pensei em escrever sobre os dois, mas como não lembrava o nome acabei não colocando. Mas aí, por felicidade da conectividade mundial, eles encontraram meu blog e leram o relato. Por isso, fica aqui um abraço pros caras! Dois escaladores cariocas que "desgastaram" um bocado as mãos lutando contra o tempo ruim pra escalar o Couto!
Nelson e Sandro, grande abraço! Qualquer dia marcamos alguma montanha!